À Sua Santidade o Papa Francisco
Meu amado Papa:
Estou escrevendo a V. Santidade para pedir não uma resposta, mas um favor. Não um favor a mim, na verdade, mas um favor a meu povo.
Eu sou judeu. Não um judeu ortodoxo, mas um judeu apaixonado por seu povo e por sua História. E eu sou psicólogo – psicanalista, melhor dizendo, não um teólogo ou um erudito em assuntos religiosos.
V. Santidade certamente está consciente da recente onda de antissemitismo que está afogando nações inteiras (da Noruega ao Norte até a Argentina ao Sul) em sentimentos de ódio, desprezo e fúria.
Tenho certeza de que V. Santidade conhece muito bem de onde provém essa onda: De nenhum outro lugar que não da longa, longa História da Cristandade. Eu sei que houve surtos de sentimentos anti-judaicos em povos pagãos, antes de os missionários cristãos começarem a ensinar-lhes as Boas Novas. Mas é impossível e inapropriado comparar uma dessas coisas com a outra: Jamais, na História da Humanidade, houve um tamanho esforço, tão persistente e tão infindável por parte de nenhum tipo de agentes históricos em ensinar, exortar e convencer populações inteiras de tantas nações sobre as nefastas qualidades de um único povo – os judeus.
Os judeus foram acusados de todo e qualquer tipo de crimes e maldades, e não vou me estender aqui a respeito da horrenda lista de maus comportamentos a eles atribuídos pelos pregadores cristãos. V. Santidade certamente a conhece até melhor do que eu.
Nos últimos 70 anos (após a Segunda Guerra Mundial) surgiu um novo parceiro para esse esforço cristão: os muçulmanos. Houve muitos e sérios contatos entre "teóricos" nazistas e clérigos muçulmanos – no sentido de ensinar a esses últimos as "técnicas" da calúnia e da difamação contra os judeus, e recentemente temos visto quão bons alunos os muçulmanos se revelaram.
Estou seguro de que V. Santidade sabe muito bem que a ideologia nazista contra os judeus apareceu na Alemanha após cerca de 80 anos de uma crescente campanha antissemita. Assim, creio não estar de todo enganado ao dizer que após 1800 anos de uma maciça e quase universal propaganda contra os judeus, o solo estava preparado para as sementes do assassinato e do extermínio plantadas pelo governo nazista. Para além desses 1800 anos de pregação católica contra os judeus, outros 500 anos podem ser atribuídos à instalação Protestante de sentimentos anti-judaicos.
Assim, após 2.300 anos no total, o subconsciente cristão estava completamente preparado para aceitar e concordar com qualquer acusação que pudesse ser imaginada contra os judeus. E a população muçulmana do mundo mostrou-se um solo fértil para as mesmas sementes.
O que eu gostaria de pedir, ou melhor, de implorar a V. Santidade é que a Igreja comece, tão cedo quanto possível, uma contra campanha, uma campanha destinada a refutar, negar e contradizer as calúnias, difamações e acusações feitas aos judeus ao longo da História.
Sei muito bem do esforço feito pelo Papa João XXIII no Concílio Vaticano II nesse sentido, mas o fato é que tal esforço permaneceu praticamente todo no nível teórico, e poucos de seus ensinamentos chegaram às almas do cristão individual.
Tal campanha deveria ser realizada ao longo de um certo período de tempo – cinco anos, ao menos – até que cada adulto e criança no mundo a tenha ouvido um número suficiente de vezes para convencer-se de sua sinceridade e de sua correção. Assim, meu caro Papa Francisco, eu apelo à V. Santidade, e através dela a toda a Cristandade, para darem início muito rapidamente ao trabalho com esse gigantesco, mas importantíssimo objetivo.
Cheguei a esta ideia há cerca de cinco anos atrás. Mas a hesitação levou-me a suspender o seu envio – até o dia em que V. Santidade foi eleito. Desde então me convenci cada vez mais de que V. Santidade seria a pessoa certa para quem eu deveria enviar minha carta.
Agradeço muitíssimo a V. Santidade por ter despendido seu precioso tempo lendo este meu apelo, e agradecerei muito mais ainda quando a campanha pelo restabelecendo da honra e da dignidade do povo judeu aos olhos de tantos cristãos no mundo inteiro for lançada.
Que Deus abençoe V. Santidade e vosso magnífico trabalho feito até agora – e certamente no futuro também – em favor dos pobres, dos marginalizados – e dos judeus.
Davy Bogomoletz
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Ilustração: AlieneImagens: Internet
Midi: A Embraceble You Special
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