Uma parte expressiva dessa massa anônima vem fixando suas raízes nas periferias das nossas cidades e criando, a cada ano, novas comunidades com uma velocidade de causar espanto. E em razão desses locais nunca terem recebido um plano urbanístico pré-aprovado, fez que fossem sendo ocupados desordenadamente, incluindo espaços públicos e particulares, com construções de casas rústicas e desprovidas de qualquer conforto, e geralmente edificadas em lugares de alto risco, sem que nossas autoridades manifestassem qualquer ação assistencial a esses brasileiros esquecidos.
Entregues a própria sorte, num verdadeiro 'salve-se quem puder', os seus membros convivem o dia a dia com a carência e a violência endêmica que, de mãos dadas, causam toda sorte de privações a essas populações marginalizadas pelos governos que se sucedem, fazendo que a desesperança seja a tônica dominante e abra, paulatinamente, espaço para que uma grande revolta social seja uma possibilidade cada vez mais próxima e previsível.
Longe de uma solução em médio prazo, essa situação tende a se agravar com o contínuo fluxo migratório que nunca cessa, o que provoca o êxodo maciço campo para os grandes centros urbanos, com a consequente diminuição da qualidade de vida e o aumento da violência em todos os seus patamares.
A violência nada mais é do que um vírus oportunista desse flagelo social, alimentada que é pela natural revolta dos que se sentem excluídos pelo sistema perverso vigente em nosso país. O mesmo que sempre privilegiou os poderosos em detrimentos dos menos aquinhoados pela sorte, e fazendo que as distâncias sociais tornem-se a cada dia mais acentuadas e criem subgrupos de indivíduos marginalizados e sem esperanças em um futuro melhor para si e seus familiares.
Salta à vista de todos que algo precisa ser feito, e com urgência, para que essa situação desesperada seja bem equacionada, como forma de se evitar uma convulsão social de grande monta. Afinal, os sinais são evidentes se observarmos a criação de poderes paralelos aos legalmente existentes, na figura bizarra dos líderes do tráfico que cria as suas próprias normas e submete os menos favorecidos aos desmandos da presença marginal, que ocupa o espaço deixado pelos governos legitimamente constituídos.
Botar a repressão nas ruas, chamar a guarda nacional, colocar novas viaturas policiais no patrulhamento das cidades de nada adiantará. A fome e a desesperança estão presentes em cada esquina. Não existe nenhuma força policial ou militar, que faça frente a uma população ensandecida pelo descaso com que vem sendo tratada pelas nossas autoridades. Suas fileiras, superando a casa do milhão, somente no Rio de Janeiro, tornam praticamente impossível qualquer tentativa de pacificação no caso de uma insurreição total. Será tamanho o caos que nem o exército terá condições de restabelecer a ordem social.
E mesmo diante desse triste e ameaçador quadro em que vivemos, cingimo-nos a debater soluções inadequadas para o enfrentamento do problema. E a maioria delas calcada na pura e simples repressão, esquecendo-nos que a solução para esse gravíssimo problema reside basicamente numa melhor distribuição da renda nacional que ataque de frente a ignorância, o analfabetismo, a fome, a corrupção e a desesperança, componentes explosivos que formarão o caldo letal que nos levará a deglutir, muito a contragosto, o maior dos nossos pesadelos: a quebra do equilíbrio social com todas as suas nefastas e imprevisíveis consequências.
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