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[MISTURANDO-IDEIAS] A Cidade do Medo - Roberto J. Fraga Moreira(som)





                                                                                                                                                                  

 

                                                                                                                                                     

A Cidade do Medo

Roberto J. Fraga Moreira

Alguma coisa precisa ser feita, e com urgência!

O Rio de Janeiro, cantado em versos e prosas como uma das cidades mais lindas do mundo, encontra-se atualmente entre aquelas consideradas como as mais violentas, ganhando até das que sofrem os efeitos de guerras localizadas. Está cercada por mais de setecentas favelas, eu disse setecentas, e com uma população carente estimada em um milhão e cem mil pessoas, segundo os últimos levantamentos, sendo composta em grande parte por moradores das regiões Norte e Nordeste, e que para cá vieram à procura de novas oportunidades, já que em seus respectivos estados inexistem infraestruturas adequadas que permitam um pleno desenvolvimento social.

 

Uma parte expressiva dessa massa anônima vem fixando suas raízes nas periferias das nossas cidades e criando, a cada ano, novas comunidades com uma velocidade de causar espanto.  E em razão desses locais nunca terem recebido um plano urbanístico pré-aprovado, fez que fossem sendo ocupados desordenadamente, incluindo espaços públicos e particulares, com construções de casas rústicas e desprovidas de qualquer conforto, e geralmente edificadas em lugares de alto risco, sem que nossas autoridades manifestassem qualquer ação assistencial a esses brasileiros esquecidos.

 

Entregues a própria sorte, num verdadeiro 'salve-se quem puder', os seus membros convivem o dia a dia com a carência e a violência endêmica que, de mãos dadas, causam toda sorte de privações a essas populações marginalizadas pelos governos que se sucedem, fazendo que a desesperança seja a tônica dominante e abra, paulatinamente, espaço para que uma grande revolta social seja uma possibilidade cada vez mais próxima e previsível.

 

Longe de uma solução em médio prazo, essa situação tende a se agravar com o contínuo fluxo migratório que nunca cessa, o que provoca o êxodo maciço campo para os grandes centros urbanos, com a consequente diminuição da qualidade de vida e o aumento da violência em todos os seus patamares.

 

A violência nada mais é do que um vírus oportunista desse flagelo social, alimentada que é pela natural revolta dos que se sentem excluídos pelo sistema perverso vigente em nosso país. O mesmo que sempre privilegiou os poderosos em detrimentos dos menos aquinhoados pela sorte, e fazendo que as distâncias sociais tornem-se a cada dia mais acentuadas e criem subgrupos de indivíduos marginalizados e sem esperanças em um futuro melhor para si e seus familiares.

 

Salta à vista de todos que algo precisa ser feito, e com urgência, para que essa situação desesperada seja bem equacionada, como forma de se evitar uma convulsão social de grande monta. Afinal, os sinais são evidentes se observarmos a criação de poderes paralelos aos legalmente existentes, na figura bizarra dos líderes do tráfico que cria as suas próprias normas e submete os menos favorecidos aos desmandos da presença marginal, que ocupa o espaço deixado pelos governos legitimamente constituídos.

 

Botar a repressão nas ruas, chamar a guarda nacional, colocar novas viaturas policiais no patrulhamento das cidades de nada adiantará. A fome e a desesperança estão presentes em cada esquina. Não existe nenhuma força policial ou militar, que faça frente a uma população ensandecida pelo descaso com que vem sendo tratada pelas nossas autoridades. Suas fileiras, superando a casa do milhão, somente no Rio de Janeiro, tornam praticamente impossível qualquer tentativa de pacificação no caso de uma insurreição total. Será tamanho o caos que nem o exército terá condições de restabelecer a ordem social.

 

E mesmo diante desse triste e ameaçador quadro em que vivemos, cingimo-nos a debater soluções inadequadas para o enfrentamento do problema. E a maioria delas calcada na pura e simples repressão, esquecendo-nos que a solução para esse gravíssimo problema reside basicamente numa melhor distribuição da renda nacional que ataque de frente a ignorância, o analfabetismo, a fome, a corrupção e a desesperança, componentes explosivos que formarão o caldo letal que nos levará a deglutir, muito a contragosto, o maior dos nossos pesadelos: a quebra do equilíbrio social com todas as suas nefastas e imprevisíveis consequências.

***

Ilustração: AlieneImagens: Internet

                                                                                                                                                                    
 



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Um maravilhoso dia
bjos

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