Meus Amigos; Estamos na Páscoa. É, portanto, tempo de nós, os cristãos, celebrarmos o evento maior do calendário da nossa religião; a Ressurreição de Cristo; a vitória da vida sobre a morte. Um acontecimento ainda de maior importância e significado que o Natal. No poema abaixo, está sinteticamente explicitado o Evento e os preceitos religiosos que o caracterizam. Mas é de outra ressurreição milagrosa que vos venho hoje falar. De outra vitória da vida sobre a morte; aquela que é hoje possível, graças à evolução da ciência médica, mais precisamente dos transplantes de órgãos humanos. Deus, na sua infinita misericórdia, dotou o homem de inteligência para que lhe fosse possível evoluir como ser superior e potencializar as condições da vida humana sobre a terra. Ele tem-no feito, e assiste-se hoje a autênticos milagres no campo da medicina e da cirurgia, e outros se preparam para nos maravilhar e encher de mais justificada esperança. Falo de regeneração de células, de códigos genéticos e tantas outros avanços, sobretudo no âmbito da biogenética. Pena que alguns homens não tenham intuído toda a nobreza da intenção divina e Lhe tenham aviltado a intenção, a ponto de fazer perigar a existência de vida no planeta. Mas isso são contas de outro rosário, não deste que me motivou a falar-vos nesta data. Cultura da vida e da solidariedade Na lógica da fé cristã, a doação de órgãos inscreve-se no âmbito dos actos cujo sentido mais profundo é o de afirmar uma cultura da vida através da solidariedade. Órgãos vitais que inexoravelmente se degradariam num corpo humano irremediavelmente perdido para a vida, podem ser hoje ofertados e transferidos para salvar outras vidas, e reabilitar a saúde e alegria de viver de outros seres humanos. Está-se assim em presença de uma corrente solidária apoiada na ciência mas certamente proporcionada por desígnios mais altos. Doar um órgão, vital ou não, não é simplesmente dar "alguma coisa"; é dar algo de si mesmo. E esta é a expressão maior do amor, ainda que involuntariamente assumida, quando o decisor não pode ser o próprio. E perguntamos-nos: porque seria estranho doar e receber órgãos? – Nas palavras do Apóstolo Paulo: "somos membros uns dos outros, constituímos um único corpo, cuja cabeça é o próprio Cristo". A mística na "ressurreição humana" No estrito sentido do termo, a ressurreição consiste no retorno da alma ao corpo, após a morte. Não é disso que se trata, uma vez que um transplantado não chegou, de facto, a abandonar a vida, senão que mantê-la seria difícil ou impossível, sem que essa prática fosse uma realidade de sucesso. O corpo humano é uma via para que o espírito interaja com o mundo material. Com a morte, esta "máquina" que somos, embora de concepção divina, desagrega-se, tornando-se inútil ao "ser", que até então a animava. Não me desdirei, ao afirmar que esta ressurreição é também uma afirmação de fé; é vitória da vida, do bem e do amor sobre tudo o mais. Mais de vinte séculos depois desse milagre operado pelo Criador com o Seu filho delitecto, a técnica já hoje muito aperfeiçoada dos transplantes de orgãos foi-nos concedida como um dom, e, portanto, pode ser vista também à luz mística da Ressurreição de Cristo.
A Páscoa ( Eugénio de Sá ) Maior do que o Natal p'ra cristandade A Páscoa é o evento essencial; Cristo ressuscitou já divindade E foi juntar-se ao Pai primordial Depois da morte, a vida se refez Daquele que por amor se imolou Vítima das traições e sordidez Em holocausto o sangue derramou Cinquenta dias dura a celebração Até em "Pentecostes"se encerrar Em festa, com andor e procissão O Espírito Santo então vai derramar As suas graças em cada coração E d'Elas nos sentiremos penetrar
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