AMANHÃ
Alfredo dos Santos Mendes
Jamais posso esquecer que sou matéria.
Que pertenço a um reino zoológico.
Que transporto um relógio biológico,
Que marca minha hora em cada artéria!
Que não possuo em mim, virtude etérea.
Que sou por condição ser cronológico.
E como tal, meu fim será o lógico.
Retornarei a pó, em paz funérea.
Como um arado o tempo vai rasgando,
As rugas que no rosto vão ficando,
Emolduradas de modestas cãs.
Meu corpo que já fora escultural,
É como uma ribeira sem caudal...
Um rio onde se cruzam amanhãs!
Lagos, Portugal
29/01/2001

DO PÓ VIEMOS
Eugénio de Sá
Antes do barro o pó foi a origem
E ao pó retornaremos algum dia
Quando ao esgotarmos toda a fantasia
- E se finar, em perdas, nosso fado -
Deixarmos só resíduos de fuligem
Mas enquanto esculpimos esta vida
De raivas, desesperos, e de mágoas
Engendramos sorrisos nessas águas
- Que afogam desditosos sentimentos -
Quando viver parece sem saída
Damos conosco às vezes encantados
Pois perpassam por nós dias felizes
Como jardins de flores e de matizes
- Que nos deixam memórias de extasia -
Pra retornar ao pó, extasiados!
Brasil, 2007
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